quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Dissonância

Tem dias que toda a ignorância, a arrogância, a impunidade, o preconceito, o descaso, a maldade, o desleixo, o racismo, a desigualdade, a desonestidade, o desrespeito, a intolerância, a hipocrisia, a mentira e a fome do mundo caem sobre os meus ombros, invadem o meu peito e me arrancam o ar, o sorriso e lágrimas.

Mas de todas as minhas certezas duas me acalentam a alma nesses dias difíceis:

Eu posso ser a diferença;

Amanhã é outro dia.


domingo, 23 de agosto de 2015

20 DE AGOSTO


A comédia é sempre o gênero do dia do aniversário. Acontecimentos inusitados e aleatórios, aquela coisinha que sempre dá errado. E aí, como faz? Ri! Ri que é melhor.
Não mais engraçado que o episódio da doação de sangue do ano anterior, mas com o devido valor que o dia reserva.
Era uma linda manhã, o sol brilhava, mas um vento maroto anunciava o frio e a chuva que viriam à noite. Ela estava esperando que o sinal abrisse para então seguir em direção à praia, para a sua caminhada matinal, quando percebeu que era alvo de muitos olhares e ouviu uma voz dizendo: “parabéns!” Não, não era um conhecido. Não era um “parabéns” de aniversário. Era uma daquelas gracinhas que as mulheres costumam receber como um elogio. Foi então que percebeu que mostrava há mais ou menos meio minuto, meia banda de bunda aos transeuntes da Rua do Catete com a Dois de Dezembro. Pensou: “estou de biquíni, ok.” Sinal abriu. Corta!
Caminha, corre, tira foto, alonga, responde mensagem, esconde o celular. Corta!
Voltando pela Dois de Dezembro, toca o celular. “Alô... Obrigada... Obrigada... Desculpe... preciso desligar... o vento... meu vestido... tu...tu...tu...” Corta!
Virando a esquina da sua rua, toca o celular e, naquele microssegundo que ela pensou se atendia, esqueceu porque não atenderia... “Alô, oi... Obrigada! Tá ótimo! Obrigada... Ahaha... Obrigada...”
E foi assim, sem parar, sem pensar, sem vergonha, que achou graça no vento que foi levantando o seu vestido até à porta de casa, enquanto alguém lhe desejava ‘feliz aniversário’ e ela ria de si.

quinta-feira, 30 de abril de 2015

ALGUÉM LUGAR

 
    Um lugar, é só um lugar, até você nele estar
    Tolice é pensar que a sua chegada o fará mudar

    Pessoas mudam e se mudam e se moldam
    Lugares são e estão e permanecerão

    Pessoas sonham e acordam e recordam
    Lugares amanhecem e acontecem e omitem

    Um lugar tem cheiro, tem chuva e tem memória
    Uma pessoa tem olfato, tem lágrima e tem história

    Um lugar ainda será só um lugar quando você dele partir
    Tolice é pensar que voltará a mesma pessoa que existia antes de ir









terça-feira, 21 de abril de 2015

MOVIMENTE

Permanecer inerte até que parece bom
Armazenar energia ou alimentar ilusão?
Desperta culpa, arrependimento, frustração

Entre o ser e o estar
Errar pouco é não tentar
Levantar, criar, transmutar

Crer para ser, viver para ver
Encontro as respostas onde verdadeiramente estão
Na alma, na mente, no coração

Do lado de fora, um passo ligeiro
Do lado de dentro, transformação
Passa depressa! Corre, não para! Pressa de quê?

Gira mundo, roda gigante, vira vento
Dúvida, dádiva ou alento?
Paro, reparo, encaro
Sou o meu acontecimento.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

TRANSPLANTE

Precisa-se de olhos
para ver, para crer, para encontrar
Para perceber além do que se vê, além do que se tem, além do óbvio
Para enxergar no escuro, olhar de longe, ver de perto
Arregalados, puxados, negros, vesgos
Que falem, decifrem, revelem
Que transmitam a calma, traduzam o silêncio, reflitam o desejo

Precisa-se de coração
Forte, pulsante, grande, feito o de mãe
Puro, mole, forte, inteiro
Onde caiba alegria, dor, amor, ilusão
Que além de pulsar, vibre ao menor sinal de emoção
Cheio de amor, de verdade, de vontade
De ter, receber, acolher

Precisa-se de alma
Sem cor, sem medo, sem rancor
Alegre, leve, serena, ingênua
Para viver, crescer, sentir
Para voar, evoluir, se permitir
Precisa-se de um ser
Que queira ter tudo isso em si






sábado, 4 de abril de 2015

DESPERTAR

Virou a página e lá estava
Demorou um ano para conseguir se desapegar daquela história que tanto a envolvia
Cada letra, cada vírgula a faziam voltar e reler o capítulo anterior e o anterior, até o primeiro
Um dia numa leitura dinâmica, linhas, entrelinhas, notas de rodapé e dedicatórias, revelaram o desfecho da trama tão adorada
Deu adeus à falta de ar e à taquicardia que a ansiedade trazia
Notou que a última página não estava como imaginou, vazia, mas grudada à penúltima
Molhou o dedo com saliva e com a pressa do afogado de sair do mar, virou a página e estava lá
Não era surpresa o que lia, era certeza
FIM.